Representatividade cristã na bancada política do Brasil
- Sara Nayara
- 16 de jan. de 2019
- 5 min de leitura
Em entrevista exclusiva, o Deputado Marcelo Aguiar, conta sobre sua experiência profissional e opina sobre o atual cenário político e religioso do país.

Os evangélicos deixaram de ser minoria invisível no Brasil. Nos últimos anos eles têm alcançado mais visibilidade pública, predominante, mas não exclusivamente conservadora. Isto chama a um amplo debate público para além dos espaços religiosos, afinal a bancada hoje conta com um apoio fundamental do eleito presidente Jair Bolsonaro.
Cantor, compositor, pastor da igreja Renascer em Cristo, formado em gestão pública pela UNINTER, atuante político e defensor da família tradicional brasileira, Marcelo Aguiar conta sobre sua passagem governamental e sua opinião sobre a representatividade evangélica no país.
· Conte-nos um pouco como a política começou a fazer parte de sua trajetória.
De uma forma muito simples, um partido político fez uma pesquisa com alguns nomes e suas aceitações políticas e o meu ficou em uma boa classificação, me filiei e aceitei ser candidato.
· E o evangelho, quando começou a fazer parte de sua vida?
Entre os anos de 1999 e 2000. Conheci a Paula, minha esposa e mãe dos meus filhos, ela já era da igreja e me apresentou a Renascer nesta época. De uma forma muito particular iniciei uma campanha em um dos cultos, comecei a conhecer a igreja melhor até que fiquei noivo. No dia do meu noivado, aceitei Jesus e desde dentão Ele faz parte da minha caminhada.
· Seu primeiro mandato como vereador foi em 2008, na cidade de São Paulo, pelo PSC. Qual foi sua principal dificuldade nesta vitória? Conte-nos mais sobre sua experiência.
Ser um candidato novo, em uma campanha sem experiência e recursos. Mesmo com todos os empecilhos, fui o 15º vereador mais votado da cidade de São Paulo, 41.506 votos, um vereador muito bem classificado nas eleições de 2008.
· Como vereador, você pode perceber a falta de representatividade política para cristãos?
Os cristãos sempre tiveram uma boa representatividade, batalharam pelo seu espaço político. No meu ver, pude agregar essa bancada e na época não só representar o povo evangélico, mas todos que votarão e acreditaram em mim como representante da categoria.
· Em uma campanha política, o apoio de lideres religiosos é fundamental? Por que?
Toda liderança é importante para uma campanha e para um candidato, seja evangélico ou não. Todo líder tem poder de comunicação com a massa, isso é fundamental.
· Você passou por quatro partidos em sua carreira política: o PSC, PSD, DEM e PSB. Qual o motivo desta troca e quais diferenças você pode perceber como político?
PSC foi muito importante no início, minha base partidária. PSD foi fundamental na transição do prefeito Gilberto Kassab, onde eu precisava de um partido que acompanhava minha ideologia e meu cargo na época. O Democratas veio de uma decisão pessoal, com a junção do PSD eu ficaria sem mandato, então optei pela mudança. E o PSB novamente por mandato, todas as minhas mudanças, acredito eu, que foram necessárias e bem estruturadas conforme decisões políticas.
· Você é reconhecido como um grande pai de família hoje em seu ministério. Qual o papel deles em sua vida e seus familiares apoiaram sua entrada na política?
Contei sempre com o apoio de meus familiares na política, foi fundamental e me deu forças. Meu papel de pai vem por todo meu amor aos meus filhos, minha esposa, a família que constituímos.
· Quais são os principais princípios que um candidato deve defender como representante da bancada cristã no país?
A bancada cristã está muito ligada a defesa da família. Seja contra o aborto, ideologia de gênero, combate a legalização das drogas, que já é um trabalho social muito forte feito dentro das igrejas, por exemplo. Tudo que o poder Executivo não realiza, mas a Igreja faz, temos sempre de reconhecer e defender essas causas.
· Seu primeiro mandato como deputado federal foi em 2014. Conte-nos um pouco sobre essa experiência.
Foi um mandato bem difícil. Eu não conhecia a Câmara, nem possuía uma ampla noção do que ocorria dentro do Congresso, tive de aprender tudo sozinho. Esses quatro anos foram fundamentais para minha carreira política, neles pude compreender o papel de cada comissão, funcionamento da votação, organograma da casa, tudo através de muito trabalho e dedicação.
· Quais são as principais dificuldades de um candidato para realizar campanha política dentro das igrejas?
Não considero bem a palavra dificuldade, mas acho que a função maior é apresentar propostas e através de seus pleitos e ideais de defesa política convencê-los da importância da permanência no mandato.
· A Marcha para Jesus é o principal evento evangélico atual no país. Qual sua participação nele e como ocorreu a aprovação deste projeto de lei?
O projeto foi aprovado através do Bispo Marcelo Crivella, com o apoio do nosso Bispo da Renascer, Geraldo Tenuta. Todo ano meu trabalho com a Marcha para Jesus está na parte burocrática, liberação de orçamento, assinaturas, organização de tudo aquilo que é mais administrativo. É um evento grandioso e tenho a honra de ajudar desde antes da minha carreira na política.
· A Igreja Renascer sempre foi um pilar de apoio em suas candidaturas. Como político e atuante no ministério, você recebeu muitos pedidos, cobranças, até mesmo sugestões dos fiéis? Qual o papel deles em sua vida política?
Eu defendo fielmente aquilo que são bandeiras da igreja, fora isso, nós atuamos nos meios de comunicação. A Igreja Renascer hoje tem como base o projeto de comunicação: Rádio e TV, sempre trabalhei por isso e mesmo agora fora da Câmara vou continuar trabalhando. Os pleitos dentre os fieis são comuns como os outros, saúde, segurança, enfim, batalhei e prosseguirei batalhando por eles.
· Como político sua principal proposta era a defesa dos valores da família. Quais foram seus principais projetos como deputado?
A Constituição já tem muitas páginas a respeito e a favor da família. Alguns dos meus projetos foram: Mãe solteira, que dava apoio a essas mulheres muitas vezes descriminadas em nossa sociedade, idosos que são abandonados em asilos, extorquidos pelas próprias famílias e crianças e adolescentes, contra a pedofilia. Minha bandeira sempre esteve focada nas causas familiares e acredito que fui um deputado atuante quanto a isso.
· A briga ideológica entre política e igreja prejudica o direito dos cidadãos a serem representados conforme seus ideais?
Não, a briga ideológica entre os dois não prejudica em absolutamente nada. A Igreja faz o papel que a política não faz e a politica tem a obrigação de cumprir com suas funções, esse é um grande estigma que precisa ser compreendido.
· Hoje o Brasil caminha para ser o maior país evangélico do mundo, você acredita que a representatividade política desse público vai continuar crescendo nesta mesma intensidade?
A política está mudando, não só aqui no Brasil, mas em muitos países potências no mundo. Quem tem povo está elegendo seus candidatos, é uma estatística, mas não se pode afirmar nada com certeza neste caso, vamos perceber esse aumento ou não no decorrer do tempo.
· Que diferenças você percebeu no processo eleitoral deste ano para os demais?
Ficou perceptível o cansaço da população com a mesma política de anos e o resultado foi essa grande mudança de representatividade, a eleição do presidente Jair Bolsonaro que contava com um expressivo apoio da comunidade evangélica. A própria renovação não dá garantia de uma mudança positiva, entretanto no próximo ano poderemos visualizar melhor esse resultado.
Comments